É com enorme satisfação que partilhamos o discurso integral do Presidente da Fundação Carlos Albertino Veiga, Dr. Paulo Veiga, proferido no âmbito da Semana do Mar do Governo de Portugal na Expo Osaka 2025.
Está é uma oportunidade para conhecer na íntegra a visão, os compromissos e a mensagem da Fundação em defesa do Oceano e do desenvolvimento sustentável, bem como o seu papel nas relações bilaterais com Portugal.
Senhoras e senhores,
Distintos convidados,
Caros amigos,
É para mim uma honra e um privilégio estar hoje aqui, no Pavilhão de Portugal na Expo Osaka, representando a Fundação Carlos Albertino Veiga, e poder partilhar convosco a nossa paixão e compromisso com o oceano.
Antes de mais, gostaria de agradecer calorosamente à Direção Geral de Políticas do Mar de Portugal, na pessoa da sua diretora, Eng. Marisa Lameiras da Silva e, um agradecimento especial ao Senhor Secretário de Estado do Mar, Eng. Salvador Malheiro, pela calorosa receção e pelo apoio contínuo às iniciativas de literacia oceânica. Este encontro simboliza não apenas um compromisso institucional, mas a vontade de unir esforços em prol de um futuro mais sustentável para todos nós.
Quero também saudar de forma especial a delegação da Doca Pesca. O vosso nome é inspirador já que as docas são portas de e para o mar e sabem melhor do que ninguém que um oceano saudável é garantia de vida… e de peixe! Proteger o mar não é só um dever ambiental, é também a melhor forma de proteger o vosso negócio, afinal, sem mar limpo e vivo não há pesca sustentável, nem docas felizes. Contamos convosco neste esforço comum!
E por último uma saudação para o AICEP. Fala-se muitas vezes em literacia quando criamos um problema e depois queremos ensinar a resolvê-lo. É por isso tão importante que a literacia do oceano ande de mãos dadas com a economia azul. E não é por acaso que a AICEP está aqui: o seu trabalho notável na promoção de negócios portugueses sustentados na economia azul só fará sentido se houver um oceano saudável. Sem mar, não há mercado. Por isso, o esforço que fazemos deve ser de todos, porque o primeiro lucro tem de ser sempre do planeta.
Gostaria de começar precisamente por este último ponto. É fundamental destacar a relevância da economia azul para ambos os países. A economia azul desempenha um papel crucial no mundo atual, e em especial em países onde o mar representa muito da sua essência. A promoção da utilização sustentável dos recursos oceânicos para o crescimento económico, melhoria dos meios de subsistência e criação de empregos, ao mesmo tempo que preserva a saúde do ecossistema marinho, são vectores fundamentais desta visão de futuro.
Esta abordagem é essencial para enfrentar desafios globais como as alterações climáticas, a degradação ambiental e a escassez de recursos. Além disso, a economia azul oferece oportunidades significativas para inovação e desenvolvimento tecnológico, impulsionando setores como a pesca sustentável, a aquicultura, o turismo costeiro e a energia renovável marinha.
A cooperação entre os dois países neste campo pode levar a um desenvolvimento mais sustentável e resiliente, beneficiando não apenas as suas economias, mas também contribuindo para a saúde do oceano e o bem-estar das comunidades costeiras.
A nossa fundação, sediada em Cabo Verde, sempre reconheceu no oceano não apenas uma fonte de vida, mas também de identidade, cultura e desenvolvimento económico. Cabo Verde e Portugal partilham uma história comum ligada ao mar, e este protocolo que hoje celebramos permitirá fortalecer a colaboração em projetos bilaterais que promovem a educação, a investigação e a preservação marinha.
A literacia do oceano é, hoje, mais do que nunca, uma ferramenta essencial. É através do conhecimento que inspiramos a responsabilidade, a proteção e o cuidado que estes ecossistemas tão ricos merecem. Queremos que crianças, jovens e adultos compreendam a importância dos mares, não apenas enquanto recurso, mas como herança coletiva que nos conecta a todos.
A melhor definição que ouvi de literacia do oceano resume-se numa tríade simples mas poderosa: conhecimento, responsabilidade e ação. Conhecimento, porque só compreendendo o oceano podemos valorizá-lo; responsabilidade, porque todos somos parte desta herança azul; e ação, porque o tempo de agir é agora. Encontros como este não podem ser apenas momentos de reflexão, têm de ser catalisadores de medidas fortes e concretas para proteger o mar que nos sustenta.
Com Conhecimento, responsabilidade e ação protegemos o nosso oceano. Este deverá ser o nosso lema, um lema que não é só da Fundação que represento mas de todos nós.
São estas comunidades costeiras o coração pulsante desta dádiva do nosso planeta. São nelas que o conhecimento tradicional do mar se mantém vivo, transmitido de geração em geração, e onde a relação entre o ser humano e o oceano se manifesta de forma mais direta e concreta. São estas comunidades que alimentam a cultura, a economia e a identidade das regiões costeiras, e cujo bem-estar depende diretamente da saúde dos mares. Proteger o oceano é, portanto, também proteger estas vidas, estas histórias e este modo de existir que nos liga profundamente ao mar.
Além do conhecimento científico, é fundamental valorizar o conhecimento de vivência e cultural relacionado ao oceano. Este conhecimento, transmitido através de gerações, enriquece nossa compreensão e conexão com o mar. Devemos ser capazes de comunicar essas informações de maneira clara e acessível, para que todos possam compreender e se sentir responsáveis pela proteção dos ecossistemas marinhos. Somente assim, com a participação e ação de todos, poderemos garantir um futuro sustentável para o nosso oceano.
O oceano é apenas um. Apesar dos nomes que lhe damos, seja Atlântico, Pacífico ou Índico, as suas águas não conhecem fronteiras: estão ligadas, partilham correntes, vida e desafios. O que fazemos numa parte do planeta repercute-se em todas as outras. É este o nosso oceano, único e indivisível, que sustenta a vida e conecta continentes. Que esta consciência nos inspire também a nós e tal como as águas do mundo se unem num só corpo, que possamos unir-nos num só propósito, proteger, regenerar e valorizar o Oceano para as gerações de hoje e de amanhã. Essa é primeira lição da literacia do oceano.
O protocolo que vamos assinar hoje não é apenas um acordo formal, é um compromisso com o futuro. É o símbolo de que Cabo Verde e Portugal, juntos, podem desenvolver projetos educativos, científicos e culturais que reforcem a nossa ligação ao oceano e promovam práticas sustentáveis, conscientes e inovadoras.
Termino, então, com um convite, que desafia cada um de nós, seja em Cabo Verde, em Portugal, ou em qualquer parte do mundo, a se tornar um guardião do mar. Que possamos transmitir esta paixão e responsabilidade às novas gerações, para que o oceano continue a ser fonte de vida, de inspiração e de união entre os povos. Como dizemos em crioulo de Cabo Verde “um Djunta mon”.
Muito obrigado.